quarta-feira, 11 de maio de 2011

Os ritos da nossa vida moderna

Na última quarta-feira (11 de maio) a Folha de São Paulo Online divulgou uma matéria a respeito de índios que estariam questionando rituais de passagem tendo em vista os seus conhecimentos sobre a ‘cidade’, via facebook.

Durante uma conversa com meus colegas jornalistas sobre o tema, aliás, coisa que adoramos conversar, me ocorreu, o seguinte: E os nossos ritos? Não seriam tão, ou até mesmo, mais bárbaros, do que esses, que os índios do Xingu estariam questionando?

Não quero entrar no mérito se estão certos, ou que a antropóloga citada na matéria está errada, ou ainda, que eles são, ou deixaram de ser índios porque entram na internet. Quero apenas dizer que nós temos os nossos próprios rituais de passagem, e que eles não perdoam absolutamente ninguém.

De acordo com a Enciclopédia Livre, vulgo, Wikipédia, ritual de passagem são celebrações que marcam a mudança de status de uma pessoa no seio de sua comunidade. Este termo, cunhado pela antropologia, tem sido utilizado comumente em relação aos rituais realizados em longínquas tribos: do Amazonas à Papua- Nova Guiné.

O engraçado é que nos colocamos muito superior a isso tudo. O jornalista da referida matéria frisa o teor perigoso do tal ritual, demonstrando como os jovens índios querem ser como nós. Mas te digo uma coisa: Eles deveriam ao menos pensar um pouco mais na decisão de querer ser iguais aos ‘brancos’. Quer vê só?

Vitão, papai e mamãe: UMA FAMÍLIA PERFEITAMENTE BRASILEIRA

Prestes a completar 18 anos, a mamãe pergunta: Meu filho, e a namoradinha, quando vou conhecê-la? E o papai complementa: Vitão vai ser advogado, como o paizão aqui! E aí meu filho, já se inscreveu no vestibular?

Após 2 meses ...  (Vitão agora tem 18 anos)

Papai: E quando vai ser a prova? Você está estudando, não é mesmo? Vitão: Não pai ... Papai: Não? Porque não? Eu não tô pagando pré-vestibular à toa não, hein? Vitão: Eu ainda estou em dúvida, estive pensando em fazer Publicidade ou Cinema em outro estado... Papai: Você é louco? Aonde você quer chegar com isso tudo? Você acha que dinheiro nasce de árvore, é?

3 meses se passaram...

Papai: Filhão, hoje é dia de prova, neh? Tô vendo aqui na TV. Vitão: É sim pai, mas não me inscrevi neste vestibular não. Tô em dúvida no curso que quero. Prefiro esperar mais um ano. Vou fazer mais testes vocacionais. Papai: Você pode até esperar, mas espera sentado. Eu é que não pago mais pré-vestibular. Se não quer estudar, arruma logo um emprego. Eu é que não sustendo marmanjo na minha casa, não. Na tua idade eu já era adulto. Tinha mulher e trabalhava! Vitão: É? ... Pode deixar, eu vou sair pra procurar emprego.

Mais 3 meses ...

Papai: Mais esse menino só dá desgosto mesmo. É só na frente do computador, dia e noite. O que tanto ele faz lá? E o trabalho que é bom, eu não tô vendo! Vitão: Pai, o que eu vou fazer? Não dão emprego pra qualquer um, não! Precisa de qualificação! Papai: Se você estivesse estudando Direito, emprego não te faltaria, mas ....

1 mês depois

Mamãe: Filho, tô te achando tão estranho. E a namoradinha? Você não tem, não? Tá na hora de chama - lá pra vir aqui em casa, almoçar com a gente! Vitão: MÃE, quem é a garota que vai me dá moral? Desempregado, sem dinheiro, sem carro, sem faculdade, sem beleza. Resumindo, eu sou um Zé ninguém :/

Se passam 5 meses

Vitão: Mããaae. Eu consegui ! Mamãe: Uma namorada? Vitão: Pow mãe, isso não, neh? Eu tô trabalhando na CEMAR. Fico no call center, meu turno é das 12:00h às 6:00h. Mamãe: Que horário é esse, filho?  Vitão: Pow mãe! É o que deu .... 

1 semana depois

(Pedrão está morto de cansaço. Infelizmente. Não conseguiu nem dialogar com o seu próprio pai) Papai: Que isso Victor? Mal começou a trabalhar e já ta nessa moleza? Ah, desse jeito eu desisto. Além de não querer estudar, também não quer trabalhar! Na minha época não era assim ....

6 meses se passaram ...

Vitão: PAAAI! Passei! Papai: Passou aonde? Tu foi ao Matheus pra tua mãe, foi? Vitão: Não pow! Passei no vestibular!  Papai : Filho, que coisa boa ! Pensei que fosse ficar nessa pasmaceira por mais 1 ano ! Qual curso, filho? Vitão: Pai, vou fazer História na UEMA!  Papai: História? Na UEMA? Mas tu quer vida mansa mesmo. Pensei que fosse um curso sério. Pelo amor de Deus, agora eu desisto de ti mesmo!

Pedrão animado grita pela mãe também: MÃAAAE ! Ele precisa lhe contar uma grande novidade: Conheci uma garota no dia da prova, ela é linda, independente. Tem um carrão, e ainda é muito, mas muito mesmo inteligente. Mamãe: Nossa, filho, quem é essa princesa? Vitão sorridente diz: É uma das professoras do curso! Mamãe não pôde responder a tempo. A decepção foi tanta que sofreu um forte ataque cardíaco. Neste momento se encontra no Hospital das Clínicas.

E ainda queremos falar dos índios. Os ritos de passagem da nossa sociedade são, ou não são cruéis?


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Análise do Discurso - Eni Orlandini - Caps 1 e 2 [ Resumo]


Olá leitor, por hora sem muita inspiração para escrever, nem tempo, deixo este post a respeito do tópico essencial da disciplina de Teoria do Discurso. É um resumo dos capítulos 1 e 2 do livro " Análise de Discurso" de Eni Orlandini. 

Provavelmente algum dia você poderá precisar disso, nem que seja para analisar o discurso do novo comercial  da Bombril, estreado por Dani Calabresa.

* Ok, o comercial não é tão novo assim :D

Aproveite ;)


Resumo dos capítulos 1 e 2 do livro “Análise de Discurso”.

Capítulo 1 - O Discurso

Existem muitas formas de estudo da linguagem, a saber: a língua enquanto sistema de signos, ou como sistema de regras formais - Lingüística - ou como norma de bem dizer, a exemplo da gramática. Portanto, devido a uma série de significados que a língua possui, estudiosos deram origem a um olhar diferenciado em relação à linguagem. Através do ponto de vista do discurso, a linguagem passou a ser observada a partir da Análise de Discurso. 

Análise de Discurso não se refere apenas a língua ou a gramática, mas se atem tão somente ao discurso. Por sua vez, discurso pode ser compreendido como prática da linguagem e prática social. No entanto, vale lembrar que a linguagem é a base do discurso. Desta forma, a concepção da Lingüística, proveniente dos estudos de Ferdinand Saussure se torna necessária à compreensão.

Podemos ainda assinalar que a Análise de Discurso, surge a partir da confluência de três regiões do conhecimento: Psicanálise, Lingüística, já citada, e Marxismo. A análise de discurso considera a historicidade, esquecida pela Lingüística; trabalha a ideologia pela Psicanálise, como algo relacionado ao inconsciente, sem que este o absorva; e questiona o Materialismo Histórico, no que diz respeito ao resgate do simbólico.
Em linhas gerais, a AD se trata de um novo recorte ao que se refere à língua e discurso. Não existe discurso distanciado da Lingüística, ao passo que a Lingüística, sobretudo no aspecto da língua, não é fechada em si mesma. Antes, porém, é condição de possibilidade do discurso.

Capítulo 2 - Sujeito, História, Linguagem

Um texto pode ser observado de acordo com três níveis de entendimento: inteligibilidade ( sentido literal), interpretação ( hermenêutica) e compreensão (sentido atribuído ao sistema simbólico). Este é o modo de entendimento referente à Análise de Discurso.

Análise de Discurso tem como finalidade compreender a forma na qual um objeto simbólico produz sentido, como se dá a sua significância para e por sujeitos. Tendo em vista esta finalidade, produzem-se novas práticas de leitura a partir dos gestos de interpretação relacionados ao sujeito e sentido, contidos no texto.
Antes que passemos aos gestos de interpretação referentes ao texto, se torna essencial ter a compreensão que as relações textuais são reflexos das relações sociais.

Condições de Produção e Interdiscurso

Condições de produção equivalem-se aos sujeitos e a situação. O interdiscurso, por sua vez, se refere à memória.
O contexto sócio-histórico e ideológico atrelado ao conjunto de formulações feitas e já esquecidas determina o sujeito. Todo dizer se encontra na confluência do que já foi dito, como que está se dizendo.  As palavras ditas hoje, já foram ditas outras vezes, a diferença está na resignificação. Portanto o esquecimento é parte da constituição dos sujeitos e dos sentidos.

Paráfrase e Polissemia

O funcionamento da língua funciona na tensão entre processos parafrásticos e processos polissêmicos. A paráfrase corresponde à produção de diferentes formulações do mesmo dizer ao passo que a polissemia (vários significados, diversos sentidos) é a ruptura do processo de significação. Todo discurso se faz na relação entre o mesmo e o diferente. É importante ressaltar que o discurso é polissêmico porque ele é formado por partes de outros discursos ( interdiscursividade e intertextualidade). A ideologia, que é o processo que faz com que o sujeito ao significar, se signifique, perpassa as relações de sentido entre o discurso e os sujeitos.

Relações de Força, Relações de Sentidos, Antecipação: Formações Imaginárias

As condições de produção do discurso funcionam de acordo com alguns fatores, a saber: relações de sentido, antecipação, relações de força e formação imaginária.
Relações de sentidos quer dizer que nenhum discurso existe sozinho. O discurso se relaciona com outros, e destas relações se originam os sentidos. Por outro lado, segundo a antecipação, um sujeito tem a capacidade de colocar-se no lugar em que seu interlocutor “ouça” suas palavras. O sujeito dirá de uma forma, ou de outra, segundo as expectativas, no que diz respeito, ao efeito que pensa estar produzindo em seu ouvinte.
E temos ainda a relação de forças, que corresponde ao lugar no qual o sujeito está falando. As relações de força são sustentadas no poder dos diferentes lugares existentes na sociedade. Por fim temos as imagens, que constituem as diferentes posições. Isto se dá a partir do momento que o discurso não é considerado empiricamente, mas sim, enquanto posição discursiva constituída pelas formações imaginárias.

Formação Discursiva

O sentido não existe em si mesmo, ele é determinado pelas posições ideológicas colocadas em jogo no processo sócio-histórico em que as palavras são produzidas. A partir disto iremos definir o conceito de formação discursiva, pois através dela podemos compreender o processo de produção dos sentidos, e a sua relação com a ideologia.

Formação discursiva pode ser considerada como o que determina o que pode e deve ser dito. Por meio de uma posição dada em um conjunto sócio-histórico dado, a formação discursiva pode ser analisada.

Ideologia e Sujeito

Na Análise de Discurso se tem a resignificação da ideologia, tendo em vista a linguagem. Sendo assim, considera-se a definição discursiva da ideologia.
Não há sentido sem interpretação, e este já é um fato que atesta a presença da Ideologia. A ideologia pode ser vista como a condição para que a constituição do sujeito e dos sentidos produza o dizer.

O Sujeito e sua Forma Histórica

Assujeitamento é a capacidade de liberdade sem limites e de uma submissão se falhas, é dizer tudo contanto que se submeta à língua, para sabê-la. A forma-sujeito histórico corresponde à sociedade atual, onde existe a contradição do sujeito livre e submisso, ao mesmo tempo.
O assujeitamento se faz de modo a que o discurso apareça como instrumento do pensamento em reflexo da realidade.

Incompletude: Movimento, Deslocamento e Ruptura

A condição da linguagem é a incompletude. Nem sentidos, nem sujeitos estão completos. O processo de significação é aberto, ele se constitui por meio da falta, do movimento. A falta também é o lugar do possível.
Como já foi citado anteriormente, o interdiscurso (memória discursiva) sustenta o dizer em uma estratificação e constrói uma história de sentidos.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Carta Aberta à Sociedade Imperatrizense ( Crise da Saúde Mental em Imperatriz)

CARTA ABERTA À SOCIEDADE IMPERATRIZENSE
                                                                                                                 Imperatriz,04 de maio de 2011

Neste momento, a Saúde Mental de Imperatriz vive uma situação de desrespeito aos direitos dos usuários atendidos nos serviços da rede municipal. O Centro de Atenção Psicossocial ( CAPS) Renascer, que atende a pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, fechou as portas, parcialmente. Agora funciona apenas com consultas psiquiátricas e psicológicas, em regime ambulatorial.

Essa atitude prova a desassistência dos usuários, que eram atendidos em regime diário e intensivo, o que afeta a integralidade dos tratamentos dos pacientes e a capacidade de reinserção deles na sociedade. 

O fechamento parcial do CAPS Renascer foi a última ação de um processo. Antes, foram efetivadas substituições e demissões de profissionais, bem como cortado o fornecimento regular de materiais necessários para o desenvolvimento das atividades terapêuticas.

Além da situação do CAPS II, convém registrar que o CAPSij ( Infanto Juvenil) e o CAPSad ( Álccol e drogas_ vêm diminuindo seus atendimentos e sofrendo com a mesma falta de investimento.

Essa situação de precariedade também afeta o Núcleo de Assistência Integrada à Saúde de Imperatriz ( NAISI), serviço de urgência e emergência que trabalha com internações psiquiátricas. No momento, o funcionamento se dá de forma precária, por exemplo: não são ofertadas todas as refeições necessárias para uma boa alimentação; não são desenvolvidas terapêuticas complementares ao cuidado dos pacientes em razão da escassez e, em alguns casos, falta de material para realização de oficinas; não há condições higiênicas adequadas, tanto da instituição em si quanto dos pacientes internados, o que se torna inconcebível, em se tratando de uma instituição de saúde pública. 

A situação apresentada contraria o que determina a atual política de saúde mental e ainda a Reforma Psiquiátrica Brasileira, um movimento político-social de trabalhadores, gestores, professores, estudantes, e principalmente,  de usuários e familiares dos serviços de saúde mental. Esse movimento luta contra o modelo asilar de tratamento (manicomial), com o objetivo de implantar sistemas e serviços que respeitem os direitos humanos e os princípios do SUS, atendendo aos usuários em regime aberto  e em liberdade. Isso porque, "Todos nascemos livres e somos iguais em dignidade e direitos. Todos temos direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal e social. Todos temos direito `a saúde e assistência médica e hospitalar. Todos somos iguais perante a lei", como assegura a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O Sistema Único de Saúde ( SUS) deve garantir o direito à saúde, consagrado na Constituição Federal de 1988, considera a Constituição-Cidadã: " a saúde é direito de todos e dever do Estado". Para isso, o SUS deve garantir que o atendimento seja universal, integral e equânime. Universal porque deve atender a todos, sem distinção, de acordo com suas necessidades. Integral, pois a saúde da pessoa não pode ser dividida e deve ser tratada como um todo, sempre respeitando a dignidade humana. Equânime, pois deve oferecer os recursos de saúde de acordo com as necessidades da cada um, dar mais para quem mais precisa.

Na atualidade, o que se tem observado é um flagrante desrespeito aos direitos humanos e aos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental, preconizados pelos SUS. Os usuários estão desassistidos, sem o direito à universalidade, eqüidade e integralidade, pois há serviços funcionando parcialmente e em precárias condições, tanto físicas quanto assistenciais. É preciso romper a distância entre direito garantido e direito vivido, entre o SUS legal ( da legislação) e o SUS real ( da realidade).

Em 2001, comemoram-se 62 anos de Declaração Universal dos Direitos Humanos; 23 anos de SUS; 10 anos da Política de Saúde Mental ... E no próximo dia 18 de maio, é o dia Nacional da Luta Antimanicomial. E em Imperatriz? Como esse dia vai ser comemorado? Fechando parcialmente os serviços do CAPS II? Permitindo o retorno ao modelo asilar (manicomial) de intervenção dos usuários?? Quantos usuários do CAPS de Imperatriz estão internados no NAISI?? Quantos usuários estão desassistidos, na rua, em casa?? Quais as consequências do fechamento parcial do CAPS II e da falta de investimento nos serviços de saúde mental??

A luta pela defesa de um modelo assistencial psicossocial, que substitua, de fato, o modelo manicomial e garanta os direitos das pessoas com transtornos mentais deve ser um compromisso de toda a sociedade. Todos estamos passíveis ao sofrimento psíquico. Garantir à assistência psíquica é garantir o direito à vida.


Alunos e professora da disciplina Enfermagem em Saúde Mental da Univesidade do Maranhão - Campus Imperatriz