segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A mídia e o desenvolvimento das Sociedades Modernas [ Resenha ]

 Olá !

Vamos ao post inaugural deste Blog !

Este post é uma resenha de um trecho do livro “A mídia e a modernidade: uma teoria social das mídias.” de John Thompson. Nesta resenha consta um pequeno histórico do surgimento da imprensa, e retrata a consequência de seu aparecimento junto à sociedade da época: a descentralização do poder simbólico,  poder este que se encontrava na figura da Igreja . Além disso conta com um breve comentário a respeito de uma nova descentralização que ocorre dos dias atuais. A internet como forma de descentralizar o poder simbólico pertencente aos meios de comunicação tradicionais.

Aproveite ! 

THOMPSON, John, “A mídia e a modernidade: uma teoria social das mídias.” Petrópolis, RJ, Vozes, 1990 – pags. 47 a 76

A Mídia e o Desenvolvimento das Sociedades Modernas

John Thompson inicia o referido texto trazendo à tona alguns traços fundamentais que explicam e justificam a sociedade moderna. Ao se remeter às transformações institucionais ocorridas na Europa, bem como, em outras partes do globo, o autor sugere a análise cultural da sociedade pelo viés da mídia. Mas antes que este aspecto se efetue, ao longo do texto, diversas mudanças são elencadas, e consideradas pontuais para o desenvolvimento das sociedades modernas como um todo.  Pois para o autor, a atual conjuntura de mundo percebida é resultado de mutações ocorridas ao longo do tempo.

Desta forma, a história da imprensa, junto à história da própria sociedade, se apresenta como pano de fundo para uma observação mais aprofundada a respeito da organização do poder simbólico.

Em primeira instância se tem a crítica à Igreja, enquanto detentora central do poder simbólico na Idade Média.  A ela se conferia o monopólio da produção e da difusão dos símbolos religiosos. Porém com o advento do Protestantismo, o poder exercido pela Igreja, se viu ameaçado.

A fragmentação do poder religioso culminou na expansão do conhecimento científico. O gradual crescimento dos sistemas de educação foi impulsionado pelo desenvolvimento do saber a partir do séc. XVI, configurando-se como a segunda mudança na organização do poder simbólico.

E a terceira alteração, não menos importante, mas geralmente esquecida, é o surgimento da imprensa. A mudança da escrita para impressão gerou uma transformação na forma em que as pessoas se comunicavam, reorganizando o poder simbólico em torno das indústrias da mídia. O sucesso obtido por Gutenberg foi adquirido pela capacidade de mercantilizar essas novas formas simbólicas, gerando, uma descentralização do poder simbólico, antes, monopolizado pela Igreja.

Faz-se importante lembrar, que a impressão , assim como, o Jornalismo, nasceu de uma demanda humana. Em outras palavras, da necessidade do homem interagir com o mundo em que vive.  Mas que em seu surgimento, encontrou terreno fértil, na nascente burguesia e pôde se desenvolver junto ao capitalismo. Sendo assim, a produção de livros, durante a segunda metade do sec. XV tornou-se atividade incontrolável. O advento da indústria gráfica significou o aparecimento de novas redes de poder simbólico, que escapavam ao domínio da Igreja.

Acredito que a grande colaboração do autor foi a percepção de que avanços tecnológicos realmente são fatores cruciais para a alteração na dinâmica da sociedade. A imprensa, no séc. XV foi a grande responsável por uma nova forma de interação na sociedade. Anteriormente uma sociedade que se via presa às representações de mundo determinadas pela Igreja, com a indústria gráfica, teve a possibilidade de se reinventar a partir de novos modelos simbólicos.

Podemos ainda trazer à discussão a mudança em que se vive atualmente com o advento da internet. Assim como na Idade Média, a imprensa e seu aparato tecnológico provocaram alterações na sociedade, hoje , percebemos o quanto à internet modifica nossas relações comunicacionais.

Acredito que a fase vivida pela sociedade contemporânea guarda em si semelhanças com a época vivida pelos primeiros comunicadores. Pois essa nova onda tecnológica tem abalado às estruturas dos meios de comunicações tradicionais, acarretando uma descentralização dos mesmos, que por muitos anos, se viram como grandes instituições do poder simbólico.

A maior interatividade proporcionada pela internet gera formas novas na comunicação. Agora os receptores, vistos anteriormente como massa, ganham voz, instrumentalizando-se através de redes sociais diversas, reivindicando atenção e melhores produtos midiáticos.
 
Existe portanto, uma relação ambivalente, onde os receptores, são também emissores, geradores de conteúdos relevantes. Sendo assim, ao analisar atentamente os conceitos expressados por Thompson, encontramos bases sólidas para justificar os processos de transformação ocorridos no presente momento.
Além da descentralização da Igreja, o autor coloca em cena o surgimento do comércio de notícias que se dá através da periodicidade de impressos. O desenvolvimento dessa atividade desencadeou o aparecimento de novas redes de comunicação. Folhetos informativos com assuntos referentes a decretos oficiais, política, comércio, relações sensacionalistas, eram impressos aos milhares, vendidos por ambulantes.

Com a evolução da imprensa periódica em bases comerciais desvinculadas ao poder estatal foi possível a divulgação de informações contendo críticas ao governo, entre outros assuntos relevantes para a sociedade.  E nesta empreitada , se tem a luta por uma imprensa independente do Estado, surgindo uma nova esfera pública.

Habermas, analisa a emergência de um novo tipo de esfera pública em face das transformações institucionais do poder. Creio que esta questão seja de extrema importância, pois além dos benefícios adquiridos através da imprensa, já abordados no texto, uma grande transformação se operou na esfera pública.  Apesar das críticas, Habermas percebeu o nascimento de um grupo de cidadãos que se reuniam para discutir, perceber, analisar os rumos da sociedade civil, bem como do Estado. Sem dúvida, este é um dos pontos altos do texto, pois a esfera pública permanece como assunto corrente nas discussões atuais.

E por fim, o autor coloca o aspecto da grande mercantilização sofrida pela indústria da mídia. Discute a realidade que a mídia vive, ao se submeter à lógica do capitalismo.

Deste modo, o referido texto, aborda pontos fundamentais para que se possa compreender os rumos vivenciados pela sociedade moderna, sobretudo, em seu aspecto cultural. E ao elevar o papel da mídia, sugere a investigação da sociedade através das instituições produtoras de poder simbólico.